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Teatro / ENTREVISTA

Guti Fraga compartilha origens de projeto do Vidigal que relevou Juan Paiva: 'Transformação social'

Em entrevista à CARAS Brasil, o veterano Guti Fraga relembra criação do Nós do Morro, projeto social que forma jovens do Vidigal como artistas

Guti Fraga ao lado de Babu Santana em aniversário de 38 anos do Nós do Morro - Divulgação/Shall Fotografia
Guti Fraga ao lado de Babu Santana em aniversário de 38 anos do Nós do Morro - Divulgação/Shall Fotografia

Guti Fraga (73) tem uma carreira extensa como ator, mas além dos diversos trabalhos na televisão e no teatro, o artista veterano se destaca como um dos criadores do Nós do Morro, projeto social que transforma jovens do Vidigal em artistas através do ensino de teatro. Em entrevista à CARAS Brasil, Fraga compartilha as origens de projeto que já relevou estrelas como Juan Paiva (27): "Transformação social", declara.

Sonho coletivo

Guti Fraga não é apenas um nome conhecido por suas atuações na televisão e no teatro brasileiro. Ele é, sobretudo, um agente de transformação social. Ao relembrar a gênese do Nós do Morro, projeto cultural fundado em 1986 no alto do morro do Vidigal, Guti retorna a um tempo em que sua própria vida transitava entre sonhos, universidades e pranchas de teatro improvisadas.

“A motivação para iniciar o Nós do Morro veio em um momento de sonhos e possibilidades”, conta. “Eu comecei a fazer teatro em Goiânia no início de 1970, e em 1976 me mudei para o Rio.”

Foi no dia a dia da comunidade que Guti percebeu uma ausência de oportunidades. “Comecei a ter amigos e perceber que a maioria não saía da comunidade. O Vidigal tem uma prainha linda, escola local, então ninguém saía. Notei que estava faltando alguma coisa para os jovens”. A inquietação foi plantada ali, entre conversas com vizinhos e vivências no morro, e germinou anos depois, com força total.

Teatro como porta para o mundo

Mesmo mergulhado em experiências enriquecedoras ao lado de figuras como Augusto Boal (1931-2009) e Domingos Oliveira (1936-2019), Guti nunca se desconectou do Vidigal. Depois de participar de montagens importantes e dividir a cena com Marília Pêra (1943-2015) — com quem trabalhou por cinco anos — foi uma viagem para Nova York que acendeu o estalo definitivo.

“Eu ia pra Off-Broadway e via teatro que cabia dez pessoas. Era um poste, uma placa, um teatro. Percebi acessibilidade a todos, e aquilo mexeu com a minha cabeça. Pensava nos meus amigos do Vidigal, que não tinham acesso a nada", relembra.

Ao retornar ao Brasil, a ideia do Nós do Morro deixou de ser apenas uma vontade. “Falei com o Fred Pinheiro, que era iluminador da Marília, e perguntei: ‘Fred, se eu fundar um projeto de teatro no Vidigal, você topa dar uma força pra mim?’”. Vieram os convites aos amigos da comunidade — Luiz Paulo, Fernando Mello, Maria José — e, pouco a pouco, o sonho tomou forma: “Eu já tinha na minha cabeça várias pessoas que queriam fazer teatro e fui chamando".

O nascimento do projeto foi marcado por alguns desafios. “Parei de trabalhar com a Marília e fundei o Nós do Morro em 1986. O maior desafio foi a sobrevivência”, revela. O suporte veio do trabalho em equipe e de conexões: “Sou grato a vários produtores de elenco da Globo que sempre chegavam junto e davam participações em novelas. Isso nos garantia um mínimo de sobrevivência".

Quebrando estereótipos

O impacto do Nós do Morro, segundo Guti, foi imediato e profundo. “Abrimos um leque de possibilidades. Tanto como atores, como técnicos de teatro, mas foi aberta uma porta onde as pessoas descobriram seus sonhos". Para Guti, o teatro foi mais que uma formação artística: foi um convite à vida plena. “Por isso, sempre digo: o homem sem sonhos é como um pássaro de asas quebradas.”

A transformação, segundo ele, foi também simbólica. “O Nós do Morro tem várias quebras de barreiras bem significativas". O projeto extrapolou fronteiras e promoveu intercâmbios culturais que levaram jovens do Vidigal a dialogar com o mundo. “Participamos de um filme com jovens da Alemanha, França, Portugal, Colômbia. A gente falava sobre estereótipos de outros países. Até fizemos obras completas de Shakespeare com o Royal Shakespeare Company. Isso é histórico".

Hoje, nomes como o de Juan Paiva — protagonista de novelas da Globo e astro de cinema — são exemplos visíveis do que o Nós do Morro tornou possível. Mas para Guti, a verdadeira conquista está na semente plantada: “A maior crítica de teatro brasileiro esteve lá no Vidigal. A primeira matéria foi da Tania Brandão no jornal O Globo, depois veio a Bárbara Heliodora", comemora o começo do reconhecimento do projeto que continua transformando vidas no Vidigal.

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