Drag queen há 20 anos, Lorelay Fox avalia sua trajetória e fala sobre a força da comunidade LGBT em entrevista à CARAS Brasil
Foi na pele de Lorelay Fox que Danilo Dabague (38) começou a construir seu caminho na internet, há 10 anos. Hoje, com mais de 20 anos de carreira dedicados à arte drag, o influenciador afirma que enxerga sua trajetória de forma positiva e aproveita para reforçar a importância do Dia Internacional do Orgulho LGBT, celebrado neste sábado, 28, em meio ao crescimento de tendências conservadoras.
"Socialmente, pensando nas redes sociais, estamos em um momento de conservadorismo em que as plataformas já não nos apoiam como há 10 anos", diz à CARAS Brasil. "Porém, temos muito mais apoio social. Conseguimos conquistar uma comunidade, mesmo que seja virtual, muito acolhedora. É incrível ver essa evolução."
Para ele, a data também reforça a importância da existência da comunidade, trazendo sentido para o movimento que, além de celebrar, também busca direitos, visibilidade e reconhecimento. O momento é essencial, já que, como o influenciador aponta, os ataques preconceituosos estão cada vez mais presentes.
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"Essa data marca a nossa história como uma história de resistência, traz o sentido de comunidade, que não está aqui só para celebrar, mas para conquistar direitos, ter mais visibilidade e trazer mais dignidade para nós, considerados ainda uma minoria. Ter um dia que possamos nos reunir e mostrar nossa existência para o mundo que tenta apagar quem a gente é, é extremamente importante."
Ele diz que, apesar das dificuldades, consegue ver que existe uma evolução através da internet. Hoje, por exemplo, existem muitos criadores de conteúdos LGBTs que também podem inspirar outras pessoas, gerando identificação —o que era diferente na época em que tudo dependia da televisão. Para o criardor de conteúdo, o momento é de esperança.
"Hoje, através das redes sociais a gente pode se representar, se enxergar ali. Isso veio crescendo muito nos últimos 10 anos. Então, sou bem otimista a respeito do agora e do futuro. Eu sempre acredito que são momentos difíceis, mas que o futuro é promissor."
Nascido em Sorocaba, em São Paulo, Danilo Dabague ficou conhecido pelo seu nome artístico Lorelay Fox. Ele é publicitário, apresentador, YouTuber, influenciador digital e drag queen e, atualmente, acumula mais de 700 mil seguidores em seu Instagram. Abaixo, ele dá mais detalhes sobre os trabalhos de 2025 e debate a importância do combate à LGBTfobia. Confira trechos editados da conversa.
Como você comentou, vivenciamos um aumento de tendências conservadoras. Como isso impacta o movimento LGBT?
O momento de conservadorismo é algo esperado, já que as nossas pautas e o nosso movimento ganharam muito destaque na última década. Podemos começar a discutir publicamente sobre a nossa existência e isso causou um tremor nas estruturas, e eles estão tentando revidar agora. O resultado da gente estar crescendo e mostrando quem somos é colocar medo nos conservadores, só que a gente sabe que a gente já passou por isso antes, viemos de uma comunidade que já enfrentou a ditadura, todo o estigma e o extermínio através da AIDS... É uma comunidade que sobrevive. Então, por mais que esses tempos de agora pareçam tão difíceis e tão complicados de serem ultrapassados, encontramos força para passar por cima de tudo isso, sabendo que é momentâneo, que é um resultado da nossa luta e que ela tem que ser cada vez mais engajada e maior.
Qual a importância de combater esse preconceito?
Combatemos o preconceito para que a gente viva numa sociedade mais justa, harmônica. E quando falamos de combater o preconceito, a gente não pode se apegar só à pauta LGBT. É uma pauta que atravessa muitas outras pautas, a pauta racial, a pauta de gênero... Tem muita coisa que é envolvida nisso e a sociedade só tem a ganhar quando ela elimina os preconceitos. Ainda mais num país como o Brasil, que é tão diverso, que em todo lugar você encontra todo tipo de gente. É uma pauta que visa acolher as pessoas, acabar com o preconceito. É você tornar todo o ambiente favorável para a existência, não só dos LGBTs, mas de todos esses outros recortes da diversidade humana. E sem contar que todo mundo ganha. No ambiente em que existem diversas pessoas pensando sobre soluções, tudo vai ser mais igualitário. Enquanto nos ambientes de poder só tiver o mesmo tipo de pessoa, que é aquele clichê que a gente sempre fala, do homem branco, hétero, cis, tudo ali vai ser pensado só para ele. Se nesses ambientes que essas pessoas dominam existirem pessoas LGBTs, mulheres, pessoas com deficiência, pessoas racializadas, diversas etnias e tal, tudo vai começar a ser pensado para todo mundo. Novos pontos vão ser vistos, novas opiniões, mais abrangentes, mais acolhedoras e que realmente transmitam o que é a nossa sociedade, ainda mais aqui no Brasil.
Como a sociedade pode ter atitudes ativas contra a LGBTfobia?
Primeiro, pensando no sentido da nossa comunidade, cada vez mais precisamos olhar politicamente para as nossas pautas, escolher representantes que pensem nas nossas pautas ou que, de alguma forma, tenham pautas que interajam com a gente, sabe? Então, penso muito sobre escolher pessoas diversas para nos representarem, por mais que a pauta desses representantes não seja especificamente a pauta LGBT. Quando temos uma vitória numa pauta racial, também é uma vitória para a pauta LGBT. Quando temos uma vitória das mulheres, também é uma vitória para a pauta LGBT… Enfim, pensar assim. E também enquanto sociedade, cobrar bastante, principalmente as pessoas aliadas que estão fora da nossa bolha. Essas pessoas chegam em lugares que a gente não pode chegar, e devem cobrar tanto no mercado de trabalho quanto no governo, ou mesmo na comunidade onde se vive, por mais direitos, por igualdade, por respeito. É ficar atento sobre os nossos preconceitos. Não aplaudir coisas que a gente aplaudia antes, entender a evolução das pautas sociais para saber que tem certas piadas que já não se faz, tem certas pessoas que precisam ser incluídas e serem lembradas… Tem pequenas ações que todo mundo pode fazer a partir do nosso dia a dia.
Agora, falando sobre a sua carreira! Você completou 10 anos criando conteúdos sobre a cultura drag queen. Como é ver sua trajetória até aqui?
Olhando para minha trajetória de 10 anos de drag no youtube e 20 anos de drag na vida real, eu enxergo tudo de uma maneira muito positiva. Pensando nas redes, socialmente estamos em um momento de conservadorismo em que as plataformas já não nos apoiam como há 10 anos. Porém, temos muito mais apoio social. Conseguimos, nesses últimos 10 anos, conquistar uma comunidade, mesmo que seja virtual, muito acolhedora. É incrível ver essa evolução, e ver também que hoje em dia as pessoas LGBT podem se enxergar através de conteúdos criados não só por mim, mas por outros criadores. Isso era impossível antes quando dependíamos da televisão para nos vermos. A gente nunca foi representado ali e, hoje em dia, através das redes sociais podemos. Pode se representar, se enxergar ali. E isso veio crescendo muito nos últimos 10 anos. Então, sou bem otimista a respeito do agora e do futuro. Sempre acredito que são momentos difíceis, mas que o futuro é promissor.
Além disso, você esteve em vários projetos, especialmente na DiaTV! Como tem sido 2025 para sua carreira?
Tem sido um ano bem especial. Além das minhas lives, que voltaram para eu ter mais proximidade com meu público, lives com plateia, vou continuar com Arquivo Oculto, que é meu especial de Halloween, mas algo que voltou agora esse ano através da DiaTV foi a live da Parada, que é muito especial para levar a Parada de São Paulo, que é a maior Parada LGBTQIAPN+ do mundo, para que todo mundo realmente tenha acesso, possa assistir, durante rodas de conversas incríveis que a gente teve. Esse para mim é um dos auges, um dos projetos mais especiais que esse ano voltou na DiaTV, então estou bem feliz com o resultado de tudo, não só com o resultado do meu canal, mas com o resultado de tudo que envolve a DiaTV.
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